Quer Casar Comigo?
“...então case-se comigo numa noite de luar, ou num domingo a beira mar, diga sim pra mim...”
Isabela Tavianni
Ainda estes dias eu estava assistindo, novamente, um episódio de Sex and the City onde Carrie, a protagonista, passou por um perrengue. Ela, solteira e linda aos 30 e poucos anos, vai à casa de uma amiga que acaba de ter um bebê. Na entrada, pedem que ela tire seu magnífico par de sapatos Manolo Blanick na porta porque as crianças costumam brincar no chão. Quando ela volta, os sapatos foram roubados. Ela então tenta convencer a dona da casa de que ela precisa de um ressarcimento de 500 dólares e a mulher, do alto de sua empáfia, diz que não vai pagar porque ela tem uma vida de verdade.
Carrie, no episódio, discute uma coisa que eu já tinha parado mesmo para pensar. Os solteiros nunca ganham presentes! Quando alguém fica noivo, se casa, tem filhos, somos obrigados a levar presentes. Mas os solteiros nunca ganham nada só por serem solteiros. Esse ranço cultural é resolvido pela personagem de uma maneira sutil e especial. Ela deixa um recado na secretária eletrônica da tal mulher dizendo que sim, ela está se casando, com ela mesma. E sua lista de casamento está justamente na Manolo Blanick. Ao final do episódio, Carrie ganha um novo par de sapatos de volta.
Essa história rondou a minha cabeça por dias e dias. Assim como rodaram as crenças que, de alguma maneira, ainda fazem parte de mim. Tenho pais casados há 40 anos. As minhas duas irmãs, mais velhas, também são casadas. E eu não! Por mais que seja bem resolvido com isso, é impossível controlar a boca das tias caretonas e da minha familia que todo Reveillon jura que, naquele ano, eu encontrei “a pessoa”.
Mas, afinal de contas, o que isso de encontrar “a pessoa”? Será que existe “a pessoa” ou é mais uma dessas lendas urbanas como aquela de acordar numa banheira de gelo sem os rins? Como um homem, apaixonado e apaixonável que sou, eu sempre acredito que tenha um pessoa. Uma mulher que, naquele momento, é a mulher que você quer ver quando estiver internado num hospital ou deslumbrante numa roupa de festa . Mas será que é um só, a vida toda?
Não acredito muito nisso. Sei que relacionamentos são coisas boas, que nos ensinam muitíssimo. Sei que é uma delícia estar apaixonado, amar, ser amado. Mas sei também que nada disso é suficiente se não houver um compromisso.
Não, não se enganem! Não estou falando de compromisso com a tal pessoa. Estou falando de um compromisso com a gente mesmo. Quando Carrie disse que estava se casando consigo mesma, eu olhei para mim e pensei “é isso aí”. De repente os meus dois corações eram o meu próprio casamento, comigo. Porque, como ouvi ontem, não existe solidão maior do que a falta de si mesmo. E se pensarmos nas juras feitas no altar “prometo amar e respeitar, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, até que a morte os separe”, isso serve direitinho pra gente. Por que se você não se amar e não se respeitar, e não estiver com você pro melhor e pro pior, e não estiver com você, se bancando, quando estiver bem ou doente do que adiando o outro tentar isso? Se você não estiver bem e feliz com você quando quebrar, quando cometer um grande erro, quando perder tudo o que tem e o que não tem, quem estará? Só a gente fica com a gente pela eternidade. E por melhor que seja se casar com o homem ou a mulher das nossas vidas, nada pode tirar essa alegria da gente.
Então, estou comunicando a todos que esta semana, sim, eu me casei. Casei-me comigo. E serei feliz para sempre, até a morte me separe do meu corpo físico e me mande para um lugar diferente desta dimensão. Mas nunca, nunca mais, eu vou me abandonar. Nem pelo amor da minha vida, nem por ter feito uma bobagem e, muitíssimo menos, por não ser o ser perfeito de luz que me enfiaram na cabeça que eu deveria ser. Eu aceito! A mim. Aceito esta proposta, aceito esse anel de compromisso comigo. Assim, quando “a pessoa” do momento chegar, estarei tão inteiro, tão pronto, que não existirá nenhum sofrimento. Só a alegria do compartilhar. Mais e mais. Sempre.
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